Blog criado com o intuito de reunir crônicas sobre jogadores, partidas e outras histórias que marcaram época no Esporte Clube Vitória.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

1934... o BaVi que terminou em suicídio


 O clássicos BaVi, conhecido pela sua forma fulminante de disputa, já fez vítimas entre os torcedores, seja matando-os (literalmente) do coração ou por via da violência entre as torcidas. É de senso comum imaginar que mortes podem preceder ou suceder um clássico hoje em dia, porém não é de se imaginar que uma partida já acometeu a morte de um jogador. Em 1934, um atleta tricolor acabou se suicidando após um clássico e a notícia repercutiu no país como um fato inédito para o futebol.

 Era 1934 quando Vitória e Bahia se encontraram para um amistoso no Campo da Graça no dia 2 de julho (mesma data de um dos clássicos deste ano), uma segunda-feira, data da Independência da Bahia. Até ali já tinham sido disputados somente cinco confrontos entre os dois clubes. Os quatros primeiros haviam sido vencidos pelo Bahia. O primeiro em 10 de abril de 1932 pelo Torneio Início do Campeonato Baiano e o último triunfo em 13 de maio do ano que corria, novamente pelo Torneio Início. O Vitória por sua vez havia se sobressaído no último jogo, que tinha acontecido em 21  de junho, quando os rubro-negros venceram por 4 a 1. 
Renato Bastos, cometeu o pênalti em Almiro. Na imagem está pelo Vitória em 1935.

 Na tarde do dois de julho, o Bahia caminhava para a sua quinta vitória no clássico, quando ia vencendo o jogo por 2 a 1. Eis que o zagueiro tricolor Renato Bastos (futuro capitão do Leão da Barra) derrubou o atacante Almiro do Vitória, jogador destacado pelos seus fortes chutes (viria a jogar no Ypiranga no ano seguinte), o que resultou em penalidade assinalada pelo árbitro Vivaldo Tavares. O atleta rubro-negro Barbosa foi quem se posicionou para cobrar o pênalti, porém, tal como Viáfara em Pituaçu em 2011, Nova, o goleiro do rival se antecipou na cobrança e defendeu o pênalti. Prontamente o juiz mandou voltar o lance o que causou uma briga entre os jogadores. Após a discussão, Barbosa converteu e deixou tudo igual no placar. 
Nova, o goleiro do Bahia que se adiantou na hora do pênalti.

 O que Vivaldo não contava era que ao apito final do primeiro tempo um jogador do Bahia chamado Antonio Fernandes da Costa, conhecido nos gramados como Bitonho, viesse a agredi-lo por causa da decisão em voltar a cobrança do pênalti. O árbitro, machucado, não apitou o segundo tempo, assim pondo outro juiz em seu lugar, enquanto Bitonho foi conduzido a delegacia por causa da agressão. Após pagarem a fiança, Bitonho foi solto, e no dia seguinte quando viu o seu caso de agressão repercutir nas páginas dos jornais, desgostoso por sua suspensão, ele atentou contra a própria vida ingerindo uma forte dose de cianureto de potássio, vindo a óbito em 3 de julho aos 24 anos de idade.
Almiro, atleta que sofreu o pênalti, aqui atua pelo Bahia contra o Botafogo-RJ em 1935.
 Os jornais de Rio de Janeiro e São Paulo noticiaram no restante da semana o suicídio de Bitonho, informando isso aos leitores como um fato inédito na história do futebol. O Vitória venceu o BaVi por 4 a 3 e só voltou a campo após o ocorrido no domingo seguinte, quando venceu o Botafogo-BA por 1 a 0. O Bahia por sua vez jogou no dia 5 de julho, dois dias após a morte de seu atleta, com o Energia Circular e empatou em 1 a 1. O clube tricolor viria a ser campeão do Baianão naquele ano, tendo o próprio Energia como vice e o Vitória em terceiro colocado.
Notícia do periódico A Noite (RJ), no dia 5 de julho de 1934.

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